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Primeira Guerra Sino-Japonesa

  • Ermes Lemos
  • 4 de nov. de 2015
  • 10 min de leitura

A Primeira Guerra Sino-Japonesa (1894-1895) foi um conflito entre o Japão e a China, fundamentalmente pelo controle daCoreia. Em chinês, para distinguí-la da Segunda Guerra Sino-Japonesa, é conhecida como "Guerra Jiawu" (甲午戰爭), já que ocorreu no ano chinês que leva esse nome.

Em Março de 1895 os dois países assinaram o tratado de Shimonoseki e a China aceitou a cessão de Taiwan, das Ilhas Pescadores e de Liaodong ao Japão.

No entanto, nesse mesmo ano a Rússia, que via a expansão de Japão como um perigo aos seus interesses geopolíticos na zona, apoiada pela França e o Reino Unido pressionaram o governo japonês para que amistosamente reconsiderasse as vantagens obtidas pelo Tratado de Shimonoseki.

O Japão, que se via incapaz, no momento, de enfrentar-se com a Rússia, sobretudo por esta estar apoiada pelos franceses e pelos britânicos, cedeu e teve de renunciar em favor da Rússia, aos direitos adquiridos sobre a península de Liaodong e a sua cobiçada praça estratégica de Port Arthur. Este fato, pese a conservar o resto de ganhos territoriais e a influência sobre a Coreia, criaria um considerável ânimo de vingança entre os japoneses; dez anos mais tarde não perderiam a oportunidade de desforrar-se mediante a Guerra Russo-Japonesa.

Antecedentes:

Diferentemente dos demais vizinhos da China, o Japão cultivava uma forte tradição de isolamento. O distanciamento do continente dificultava contatos com estrangeiros e propiciou uma grande homogeneidade étnica e linguística naquele país. A ideologia oficial enfatizava uma suposta ancestralidade divina do povo japonês, que teria uma identidade única. Em ambos os países o Imperador era uma espécie de divindade, na China os Imperadores eram os "Filhos do Céu", que tinham, portanto, um "Mandato Celestial", no Japão eles seriam descendentes diretos da Deusa Sol.

Até meados do Século XIX o comércio do Japão com estrangeiros era restrito aos portos nas Ilhas Ryukyu (atualmente denominada Okinawa e ilhas menores vizinhas).

Ambos os países foram forçados a sair do isolamento por pressão das potências ocidentais, a China a partir da Guerra do Ópio, em 1839, e o Japão, a partir da chegada doComodoro Matthew Calbraith Perry que pôs fim ao isolamento japonês.

Diferentemente da China, o Japão buscou o desenvolvimento tecnológico e renovou suas instituições. Em 1868, o Imperador Meiji declarou que o conhecimento deveria ser buscado no mundo todo.

Nos anos seguintes a Restauração Meiji de 1868 e a queda do Shogunato o Japão transformou-se de um sociedade feudal para um estado industrial moderno. O Japão havia enviado delegações e estudantes a todo o mundo, a fim de aprender e assimilar as artes e as ciências ocidentais, o que foi feito não só para evitar que o Japão caísse sob dominação estrangeira, mas também permitir que o Japão competisse em igualdade com as potências ocidentais.

Em 1874, um navio japonês naufragou na costa sudeste de Taiwan e uma tribo local matou os marinheiros. O China rejeitou o pedido de indenização feito pelo Japão alegando que se tratava de uma tribo bárbara que não se sujeitava ao Imperador. O Japão então lançou uma expedição punitiva contra a ilha que a China não foi capaz de conter, e acabou sendo forçada a pagar a indenização.

Conflito sobre a Coreia:

A Coreia havia sido, tradicionalmente, um Estado tributário e continuou a sê-lo sob a influência da dinastia Qing na China, que exerceu grande influência sobre a Dinastia Joseon. No Século XIX a Coreia ainda era um Estado vassalo do Império Chinês, portanto, os reis coreanos, regularmente, enviavam tributos para Pequim. Além disso oconfucionismo fazia parte de sua cultura e caracteres chineses também eram empregados na Coreia. Nas décadas de 1870 e 1880, o Japão e a China se envolveram em uma série de disputas pela influência da realeza em Seul . A opinião pública na Coreia estava dividida; conservadores queriam manter a tradicional relação subserviente com aChina, enquanto os reformistas queriam estabelecer laços com o Japão e as nações ocidentais. Depois de duas Guerras do Ópio contra o Império Britânico e a Guerra Sino-Francesa, a China tornou-se fraca e foi incapaz de resistir a intervenção política e invasão territorial por parte das potências ocidentais. O Japão viu isso como uma oportunidade para substituir a influência chinesa na Coreia com a sua própria.

Como um país recém-emergente, o Japão voltou sua atenção para a Coreia. A fim de proteger seus próprios interesses e à segurança, o Japão queria anexar a Coreia antes que outro país o fizesse, ou pelo menos garantir a efetiva independência da Coreia, através do desenvolvimento dos seus recursos e reformar a sua administração. O conselheiro prussiano Klemens Meckel declarou ao exército Meiji que a Coreia era "um punhal apontado ao coração do Japão". O Japão sentiu que um outro poder com presença militar na península coreana seria prejudicial para a segurança nacional japonesa, e assim, o Japão resolveu acabar com séculos de soberania chinesa sobre aCoreia. Além disso, o Japão percebeu que tendo acesso a Coreia teriam carvão e minérios de ferro para a crescente base industrial do Japão.

Em 27 de fevereiro de 1876, após alguns incidentes e confrontos envolvendo isolacionistas coreanos e os japoneses, o Japão impôs o Tratado de Ganghwa na Coreia, obrigando a Coreia a abrir comércio com o Japão e aos estrangeiros, para proclamar sua independência da China, em suas relações externas.

Para reduzir a influência japonesa, a China recomendou que a Coreia fizesse laços com as potências ocidentais, especialmente com os Estados Unidos da América. Em outubro de 1879, Li Hongzhang, um importante diplomata chinês, mandou uma correspondência para um representante do governo coreano, na qual disse que:

“O Senhor poderia dizer que o meio mais simples para evitar problemas seria se fechar e ficar em paz. Infelizmente, no que diz respeito ao Oriente, isso não é possível. Não existe intervenção humana capaz de pôr um freio no movimento expansionista do Japão: acaso seu governo não foi obrigado a inaugurar uma nova era firmando um Tratado de Comércio com eles? Do modo como estão as coisas, portanto, não é nosso melhor curso de ação neutralizar um veneno com outro, jogar uma energia contra a outra?”

Segundo Li, os inimigos mais perigosos seriam o Império do Japão e o Império Russo, que buscavam ganhos territoriais, ainda que o comércio com o ocidente trouxesse influências corruptas como o ópio e o cristianismo.

Crise de 1882:

Em 1882, a península coreana sofreu uma grave seca que levou à escassez de alimentos, causando muito sofrimento e discórdia entre a população. A Coreia estava à beira da falência e o governo não foi capaz de pagar as suas dívidas, em especial para seus militares. Houve profundo ressentimento entre os soldados do exército coreano que não haviam sido pagos havia meses. Em 23 de julho, um motim militar e um tumulto eclodiu em Seul, as tropas, ajudadas pela população, saquearam os celeiros de arroz lá. Na manhã seguinte, o palácio real e quartéis foram atacados. A multidão, em seguida, tentou atacar a delegação japonesa. O pessoal da delegação japonesa conseguiu fugir para Jemulpo e depois Nagasaki, através do navio de pesquisa britânico Flying Fish.

Em resposta, os japoneses enviaram quatro navios de guerra e um batalhão de soldados para Seul para salvaguardar os interesses japoneses e exigir reparações. Os chineses também mobilizaram 4.500 soldados para combater os japoneses. As tensões diminuíram, porém, com o Tratado de Jemulpo que foi assinado na noite de 30 de agosto de 1882 que especificava que os conspiradores envolvidos seriam punidos e 50.000 ienes seriam pagos às famílias de japoneses mortos. O governo japonês também iria receber ¥ 500.000, um pedido formal de desculpas, e autorização para construir um quartel e tropas estacionadas em sua delegação diplomática em Seul.

Golpe de Gapsin:

Em 1884, um grupo de reformistas pró-japoneses momentaneamente derrubou o governo pró-conservador chinês coreano em um sangrento golpe de Estado. No entanto, a facção pró-chinesa, com a ajuda das tropas do general chinês Yuan Shikai, conseguiu recuperar o controle com um contra-golpe igualmente sangrento que resultou não só com a morte de um certo número de reformistas, mas também na queima da embaixada japonesa e as mortes de vários guardas da embaixada e cidadãos no processo. Isso causou um incidente entre o Japão e a China, mas acabou por ser resolvido pela Convenção Sino-Japonesa de Tientsin de 1885 em que os dois lados concordaram em retirar as suas forças da Coreia, simultaneamente, não enviar instrutores militares para a formação de militares coreanos, e notificar o outro lado de antemão que uma decisão de enviar tropas para a Coreia. Os japoneses, no entanto, foram frustrados por repetidas tentativas chinesas para minar a sua influência na Coreia.

Incidente de Nagasaki:

Nagasaki Incident (長崎事件, Nagasaki Jiken?) Em 1 de agosto de 1886 quatro navios da marinha chinesa atracam para reparos no porto de Nagasaki. Em 13 de agosto cerca de 500 marinheiros da dinastia Qing desembarcaram em terra firme. Eles se dirigiram a locais como o distrito da luz vermelha, destruíram instalações, causado problemas por meio de atos violentos. A cidade de Nagasaki foi cercada e começaram a invadir lojas e saqueá-las. Bêbados começaram a perseguir mulheres e crianças, causando ultrajes. Os policiais do Departamento de Polícia de Nagasaki foram acionados para deter os marinheiros, logo os policiais e marinheiros da dinastia Qing começaram a lutar em batalhas de espada dentro da cidade. Houve pelo menos 80 mortes em ambos os lados e os marinheiros foram presos. Os marinheiros utilizaram katana comprados em lojas de antiguidades. Como resultado um sentimento de inquietação foi permeado. Em 14 de agosto, em uma conferência entre o governador de Nagasaki, Yoshio Kusaka, e o Qing consulado Xuan Cai, foi determinada a proibição de marinheiros desembarcarem em terra em grupos, e concordaram que quando os marinheiros desembarcassem em terra, eles seriam supervisionados por um oficial. Em 15 de agosto, contrariando o acordo do dia anterior, por volta das 13:00 horas, cerca de 300 marinheiros desembarcaram em terra. Vários marinheiros Qing começaram a urinar em um posto policial. Quando 3 policiais foram avistados se iniciou um espancamento por cerca de 300 marinheiros da marinha Qing, resultando em uma morte. Um motorista japonês de um riquixá que viu a cena ficou indignado com isso e tentou dar um soco em um dos marinheiros. Ao fazer isso, se iniciou uma confusão entre marinheiros, civis e policiais. Novamente varias pessoas morreram e ficaram feridas de ambas as partes.

Efeitos do incidente O incidente motivou o agravamento nas relações entre os governos. O governo japonês exigiu um pedido de desculpas, mas a China, como detinha a maior e mais moderna marinha da Ásia, recusou se desculpar.

Caso Kim Ok-Kyun:

Em 28 de março de 1894, um revolucionário coreano pró-japonês, Kim Ok-kyun, foi assassinado em Xangai, supostamente por agentes de Yuan Shikai. Seu corpo foi levado a bordo de um navio de guerra chinês e enviado de volta à Coreia, onde supostamente foi esquartejado e exibido como um aviso para outros rebeldes. O governo japonês tomou isso como uma afronta direta. A situação tornou-se cada vez mais tensa no final do ano quando o governo chinês, a pedido do imperador coreano, enviou tropas para ajudar na repressão da rebelião Tonghak. O governo chinês informou o governo japonês a sua decisão de enviar tropas para a península coreana, em conformidade com a Convenção de Tianjin e enviou Yuan Shikai como seu plenipotenciário no comando de 2.800 soldados. O Japão respondeu que eles consideravam que essa ação foi uma violação da Convenção e enviou sua própria força expedicionária (a Brigada de Oshima) composta de 8.000 soldados para a Coreia. A força japonesa posteriormente capturou o imperador, ocupou o Palácio Real, em Seul, em 8 de Junho de 1894, e substituiu o governo com os membros da facção pró-japonesa. Embora as tropas chinesas já estivessem deixando aCoreia, encontrando-se indesejados lá, o novo governo coreano pró-japonês concedeu ao Japão o direito de expulsar as tropas chinesas com força, enquanto o Japão enviava mais soldados para a Coreia. A legitimidade do novo governo foi rejeitada pela China e o cenário foi assim definido pelo conflito.

Status de combatentes:

As Reformas do Japão, sob o imperador Meiji deram prioridade importante para a construção naval, a criação de um exército nacional eficaz e da marinha. O Japão enviou inúmeros funcionários militares ao exterior para formação, para avaliação dos pontos fortes e as táticas dos exércitos europeus e marinhas.

A Marinha Imperial Japonesa:

Ito SukeyukiO encouraçado Matsushima, construído pela França e montado no Japão, carro-chefe da Marinha Imperial Japonesa durante o conflito sino-japonês.

A Marinha Imperial Japonesa foi modelada com base na Royal British Navy, que na época era a principal potência naval do mundo. Conselheiros britânicos foram enviados ao Japão para treinar, aconselhar e educar a marinha japonesa, enquanto estudantes foram enviados para o Reino Unido a fim de estudar e observar a Royal Navy. Através de introspecção e de cursos ministraods por instrutores da Marinha Real Britânica, o Japão foi capaz de possuir uma marinha hábil nas artes do tiro e marinharia.

No início das hostilidades, a Marinha Imperial Japonesa tinha uma frota (apesar da falta de navios de guerra) de 12 navios de guerra modernos (Izumi sendo adicionados durante a guerra), uma fragata (Takao), 22 torpedeiros e vários navios auxiliares, além de navios mercantes convertidos para cruzadores de guerra.

O Japão ainda não tinha os recursos para aquisição de navios de guerra e, assim, planejava empregar os "Jeune Ecole" (escola jovem), doutrina que favorecia pequenos navios de guerras rápidos, especialmente cruzadores e torpedeiros, contra unidades maiores.

Muitos dos principais navios de guerra do Japão, foram construídos nos estaleiros britânicos e franceses (oito britânicos, três franceses e dois de fabricação japonesa), sendo que 16 torpedeiros ficaram conhecidos por terem sido construídos na França e montados no Japão.

O Exército Imperial Japonês:

O governo da era Meiji primeiro modelou o exército com base no exército francês e assessores franceses tinhma sido enviados para o Japão com duas missões militares em 1872-1880 e 1884. Estas eram a segunda e terceira missões, respectivamente, pois a primeiro tinha sido no âmbito do shogunato. Conscrição nacional foi executada em 1873 e um exército em estilo ocidental foi criado; escolas militares e arsenais também foram construídos.

Em 1886, o Japão voltou-se para o exército alemão, especificamenteo modelo da Prússia como base para o seu exército. Suas doutrinas e sistema de organização militar foram estudadas em detalhe e aprovada pelo IJA. Em 1885, Jakob Meckel, um consultor alemão, implementou novas medidas, como a reorganização da estrutura de comando do exército em divisões e regimentos, o reforço da logística do exército, transportes e estruturas (aumentando assim a mobilidade) e a criação de artilharia e regimentos de engenharia com comandos independentes.

Na década de 1890, o Japão tinha à sua disposição um moderno, profissional e treinado exército de estilo ocidental, que foi relativamente bem equipado. Seus oficiais haviam estudado no exterior e foram bem educados em tática e estratégia. Até o início da guerra, o Exército Imperial Japonês tinha em campo uma força total de 120.000 homens em dois exércitos e cinco divisões.

 
 
 

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